'Para desvendar a vida não bastam as ciências, são necessárias também as letras e as artes. E para viver a vida verdadeira, a vida por inteiro, é preciso a ela entregar-se com amor e paixão'.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Ela


Ela é bem jovem ainda, mas com uma história muito interessante. Parece que foi ontem que era vista rodopiando a saia e sonhando no jardim. Um sonho modesto de menina-moça. Um sonho com o Amor como tantas mulheres em todos os tempos sonham. Uma menina linda de cabelos ondulados e olhos profundos e pensativos a imaginar como seria Amar. Muito ela teve de enfrentar depois disso e por causa disso. Contudo, ela foi sempre fiel àquilo que acreditara e sentira.

A dor na vida dela se misturou ao Amor no seu primeiro casamento. Infelizmente, tratava-se de um tempo remoto àquele e tudo era previamente arranjado. Dois jovens inexperientes e tendo cada um suas próprias expectativas: mistura nada favorável a um casamento feliz. Ele a deixava para viajar por longa data e ela sofria sozinha e buscava abrigo na casa de sua irmã. Freqüentemente era vista sozinha novamente no jardim a pensar no seu próprio destino. Nesse tempo, começou a sentir modificações em seu corpo e percebeu que estava grávida. Mas o destino foi cruel com essa moça: quando seu marido voltou de viajem foi morto por vândalos a deixando completamente sem chão: jovem, viúva e grávida. Ela recebeu apoio de sua família, mas naquele tempo as mulheres eram muito menosprezadas em condições como essa e não foi diferente com ela.

Nesse momento sofrido, apareceu o homem que veio mudar sua vida para sempre: o grande e eterno Amor da sua vida. Ele era eloqüente, forte e a Amou desde o primeiro minuto que a viu no jardim da casa de sua irmã. Eles eram almas gêmeas e certamente o destino colocara tal homem diante dela para ajudá-la a superar a dor da perda do primeiro marido e o fato de ter ficado viúva grávida. Num curto espaço de tempo, ela deu a luz a um lindo menino que foi imediatamente aceito e amado pelo bom homem como se fosse seu filho. Eles estavam vivendo a mais linda história de Amor de todos os tempos e, por essa razão, acharam por bem oficializar o casamento como era correto pela lei. Contudo, a cerimônia foi simples e realizada numa praia. A celebração foi memorável e virou a noite toda até o amanhecer. Um casamento por Amor era bem raro de acontecer naquelas tribos, mas tratava-se de um caso bem diferente, visto que a noiva era viúva. Todos aceitaram e os noivos foram os maiores beneficiados.

Eram outros tempos aqueles e, mesmo bons homens como o que casara com a moça, poderiam sofrer perseguição. Infelizmente, a humanidade perdera um dos maiores pacifistas de todos os tempos. O bom homem foi morto e a moça ficou pela segunda vez viúva. Além disso, novamente ela sentiu que seu corpo estava se transformando por um bebê. Os tempos eram de revolta e perseguição. Muito sofrimento com a perda do seu verdadeiro e grande Amor invadira seu peito, mas já existiam duas vidas que dependiam dela: um menino maior e a que estava em seu ventre, logo ela precisava lutar para sobreviver. Um bom amigo e parente do seu segundo marido se ofereceu para levá-la por uns tempos para um exílio até que as coisas se acalmassem na cidade onde moravam. Ela aceitou. Viajaram de barco pelo mar em direção a terras distantes e ela era vista com o ventre cada vez mais dilatado e os cabelos ao vento a escrever muitas histórias em pergaminhos. A última notícia que temos dela é que nascera uma linda menina e que a vida no exílio estava sendo boa e tranqüila para todos.

Tão jovem e com uma história tão atribulada. Tão jovem e com uma história tão real e bela.

Uma heroína que lutou pela sobrevivência de sua prole e que merece o respeito de todas nós mulheres e também de todos os homens.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Poemas e Bordados


As coisas eram muito diferentes no início do século passado: a abordagem era mais sutil e elegante entre homens e mulheres. Imaginem um homem sensível: poeta e pintor. Vivia de forma simplória que beirava a margem da sociedade, pois se sustentava de sua inspiração através de gravuras e poemas escritos que expunha na praça. Imaginem uma Lady da corte com seus vestidos bordados e pele clara como uma porcelana. Ela vivia numa redoma de vidro bordando o enxoval para algum casamento de conveniências que a arranjariam. Ela não conhecia o Amor. Ele vivia pelo Amor.

Quando ele a viu passar pela primeira vez teve certeza que seu coração pulsava no momento certo e que estava diante do grande Amor de sua vida. Mas como seria possível atingi-la? Ela era praticamente inacessível. Então, vivia a espiá-la entre as árvores ou atrás de arbustos. Seu coração ardia de Amor e muita inspiração encheu sua mente para escrever os mais belos poemas.

Certo dia quando foi almoçar, deixou um menino cuidando sua tenda, observou de longe sua amada entrar e, pasmem, comprar um poema! Era o sinal que ele precisava para começar a seu plano. Chamou um elegante amigo seu para que ele cortejasse a moça com palavras e enviasse seus poemas dizendo que era um nobre que vivia em outra cidade. E assim aconteceu: a moça reconheceu a caligrafia, mas o rapaz disse que ele e o poeta eram de uma mesma escola na qual o professor ensinava aquele tipo de desenho de letra. A moça corava com cada um dos poemas e passou a mandar pequenos mimos como lenços bordados de presente. Ele, por sua vez, estava cada dia mais apaixonado e ficava a observar de longe.

Num passeio na praça, a moça resolveu entrar na tenda do rapaz e, quando ele se virou, deparou-se com ela sorrindo o que foi um choque. Ele engasgou e perguntou no que poderia atendê-la. “- Onde o poeta estudou caligrafia?”, disse ela delicada. Ele sorriu: “- O poeta nunca estudou caligrafia.” “- Estranho?”, disse ela um pouco incrédula. “- Você gostou da poesia?”, ele perguntou puxando assunto. “- Muitíssimo!”. Assim, começou uma conversa animada entre os dois e o início do que seria o entendimento entre as duas metades de uma mesma alma. O Amor começou instantaneamente, visto que já estava presente nos corações. Claro que o poeta teve que explicar a função do seu ‘mensageiro’ e tudo mais. Isso por conta da diferença social que existia entre eles. O Amor foi maior que tudo nesse caso em particular. Sentados na tenda ficaram lendo poemas e conversando muito animados. Ao longe, o amigo que serviu de ‘mensageiro’ ficou apenas observando e sorrindo satisfeito.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

domingo, 10 de julho de 2011

Para crianças: Entre Gatos e Cachorros


O rei dos cachorros avistou ao longe uma gatinha da nobreza. “-Vamos pegá-la”, disse ele com ironia e dando uma grande gargalhada. Os cachorros latiram alto concordando e desejando acabar com a gata branca. O rei dos cachorros reuniu sete dos seus escudeiros de confiança e mandou cada um executar uma missão: o primeiro devia fazer uma armadilha para a gata cair num buraco. A gatinha caiu, mas havia uma tábua de madeira no fundo que a impulsionou permitindo que ela fugisse da primeira armadilha. O segundo colocou um poderoso veneno no leite da gatinha, que distraída com um passarinho que voava por perto, virou toda a tigela no chão. O terceiro deveria engordar a gatinha, mas ela percebeu que a ração estava demais e a dividiu com outra gatinha amiga sua. O quarto tentou namorar a gatinha, mas ela não se interessava por cachorros. O quinto se jogou numa lata de lixo e se disfarçou de gato para ficar amigo da gatinha e depois fazer mal a ela, mas o faro da gatinha percebeu que aquele definitivamente era um cachorrinho e não um gato. O sexto vivia dentro do palácio da gatinha e colocou sonífero na água de beber dela, mas naquele dia ela percebeu o gosto estranho e resolveu beber água numa bela fonte do jardim. O sétimo cão era o próprio rei dos cachorros, que resolveu arquitetar um plano mirabolante para pegar a gatinha: pediu ao mago real que o transformasse num belo gato de forma que a gatinha o achasse atraente. Além disso, elaborou uma situação de forma a parecer que ele a salvava de uma colisão com um trem em alta velocidade. A gatinha se apaixonou e se casou com o tal gato, que na realidade era o rei dos cachorros. Esse foi o grande erro que ela cometeu: o rei se mostrou como ele realmente era e a prendeu numa jaula muito alta e inacessível a todos. A gatinha ficou infeliz e definhou sozinha naquele local por anos.

Um belo dia, um gato de rua resolveu passear pelos muros do castelo e, por curiosidade, subiu até aquela torre diferente. Quando viu uma gatinha branca dormindo na gaiola resolveu chamá-la. Miou alto até que ela despertou. “-O que você faz ai?”, perguntou ele curioso. “-Me casei por engano com o rei dos cachorros e ele me prendeu aqui porque não gosta de gatos.” O gato vira-latas ficou inconformado e buscou uma forma de abrir a gaiola da gatinha. Como ela estava muito fraca, ele a levou nos braços durante a noite para não serem vistos. Na sua casa improvisada na floresta, o gato preparou infusões de folhas e plantas medicinais, alimentou bem a gatinha e velou seu sono por muitas noites. Certo dia acordou e viu a gatinha passeando faceira no jardim na frente da casa. Ela estava muito bem e era chegada à hora de voltar ao palácio de sua família. Ele, contudo, sentia que jamais seria o mesmo sem ela.

Ao chegar ao palácio, o rei dos gatos e pai da gatinha agradeceu ao gato com muitas medalhas e honrarias. A gatinha, contudo, apontou para o gato quando ele já estava na porta: “-Gostaria da presença dele na nossa corte.” O pai concordou e o gato fora viver no castelo. Não demorou muito para que a amizade deles se transformasse num grande e lindo Amor. O casamento aconteceu como mandava a tradição dos gatos, visto que o primeiro fora uma enorme mentira. O rei dos cachorros fora caçado e preso na mesma jaula que deixara a gatinha por anos para aprender que rivalidades bobas não devem existir entre cães e gatos e que tudo na vida tem limites.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Discurso do Rei


O sol já estava alto quando a bela moça saiu da antiga casa em direção ao poço para pegar água. Ao atravessar o jardim, visualizou o Homem de quem todos estavam falando na cidade. Ele pertencia à outra tribo e vinha cheio de pessoas a sua volta. Ela parou diante do muro e ficou observando Ele passar. Confirmando o que escutara de diversas pessoas, Ele possuía o olhar mais puro e o semblante mais bonito que ela já havia visto em toda a sua vida. Quando passou diante da casa, Ele a olhou rapidamente. A moça sentiu algo muito diferente: uma espécie de chamado. Deixou o jarro de barro no chão e foi atrás da multidão que o seguia.

Num monte não muito longe da casa da moça Ele sentou-se e começou a falar. Suas palavras eram tão lindas que pareciam o canto dos pássaros para ela. Ele falava de Amor e de paz entre os homens, dizia que todos deveriam ser misericordiosos e perdoar setenta vezes sete vezes os inimigos. Ela foi tocada em sua mente e em sou espírito por aquele discurso e perdeu a noção do tempo que estava ali. Resolveu aproximar-se para ouvir melhor o que Ele dizia e, cada vez mais, sentia que aquela era a filosofia que ela devia acreditar em sua vida. Num momento importante em que o Homem fazia uma bela oração, sua irmã a puxou pelo braço e disse que estavam todos preocupados com o sumiço dela por tantas horas. Ela apenas explicou que resolvera conhecer o famoso Homem sobre o qual todos estavam falando na cidade. “- Fique um pouco e escute você também as palavras Dele.”, disse ela à irmã. As duas ficaram cerca de mais uma hora escutando o Homem falar. A irmã se emocionou e uma lágrima escorreu em sua face. As duas se olharam e, sem dizer nada, sabiam que era Ele. O homem se levantou e, junto com seus amigos, tomou a direção da cidade. As duas os ouviram comentar que eles precisavam de um local para cear naquela noite. A irmã da moça chegou diante Dele, se apresentou e disse que eles poderiam jantar em sua casa. O Homem foi muito gentil e agradeceu com delicadeza. Eles seguiram juntos ao local, mas sobre tudo a jovem ficou particularmente interessada na doutrina Dele. Ela queria segui-Lo como todos aqueles homens, embora não soubesse se isso era possível.

Após a ceia, todos se reuniram para ouvi-Lo discursar novamente. A jovem largou todo o serviço que estava fazendo e sentou-se próxima ao Homem. Sua irmã, com medo do julgamento dos outros, a chamou de volta para a cozinha. O Homem disse que ela poderia ficar, a olhou com carinho e perguntou se ela sabia escrever. Ela imediatamente afirmou que sim. “-Dêem uma pena e um pergaminho a ela. Você vai escrever o que eu disser.” A jovem ficou radiante, embora a família não tenha gostado. Contudo, naquela noite, ela escreveu o discurso do Mestre dos Mestres.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

domingo, 3 de julho de 2011

Do Show ao Sonho


Sandra estava entediada com a própria vida já havia um tempo. Nada de novo e de realmente interessante acontecia e ela passou a ficar um pouco melancólica relembrando fatos passados. Um desses fatos era um romance que tivera com um ator muito sedutor há cerca de seis anos. ‘Tempo demais’, ela pensou consigo. Contudo, a lembrança dos magníficos momentos que viveram juntos pairava de tempos em tempos na sua mente. Nunca imaginava que poderia encontrá-lo novamente, pois ele havia se mudado para outra região do país muito distante. Contudo, sua memória perdurava.

Sandra tornou-se organizadora de matrimônios e realizava o chamado cerimonial. Dessa maneira, conhecia todo o tipo de evento, desde os mais tradicionais aos mais informais. Organizava e preparava tudo com esmero e era recomendada por muitas pessoas na cidade. Por conta disso, seu nome tinha muito prestígio no ramo dos casamentos.

Certo dia, ao abrir a correspondência e recebeu um enorme convite vermelho e roxo. Achou curioso e abriu imediatamente: tratava-se de um evento que misturava cerimonial de casamento, teatro e circo. Algo que Sandra nem imaginava ser possível. Tratava-se do casamento de dois atores do Cirque du Soleil, por isso todo esse cunho teatral. Ela não sabia como eles a convidaram, mas imaginava que sua fama no ramo dos casamentos a tinha rendido esse ingresso para o espetáculo – se é que poderia se chamar um casamento assim.

Chegado o dia do evento, Sandra colocou um vestido discreto azul de veludo com um decote em ‘V’ nas costas. Estava muito elegante e parecia uma das convidadas do casamento. Na Igreja havia uma área somente para os convidados ‘plus’ como ela: se tratavam de pouquíssimas pessoas ao contrário do que Sandra imaginava. Alguns ela conhecia, como um fotógrafo e um músico. Ela estava ansiosa para o início do casamento.

O altar da Abadia estava coberto com um enorme pano branco do teto ao chão para esconder um provável cenário. Havia uma decoração diferenciada de elásticos, cordas, flores e velas nos tons vermelho e branco. Pessoas vestidas com malhas de lycra vermelha e roxas passavam entre os convidados distribuindo doces como num circo. Embora o clima fosse surreal, o noivo veio de fraque como manda o figurino. Quando ele entrou quatro homens o cercaram e um deles carregava um estandarte enorme com uma flor de lis vermelha e se posicionou diante do noivo. Esses homens vestiam uniformes vermelhos e comportavam-se como se fossem escudeiros. Ao que parece, o noivo era de uma antiga família tradicional francesa que seguiu a vida no circo. Ao chegar ao altar, o pano branco caiu revelando uma enorme cortina vermelha como se fosse um palco.

Sandra estava extasiada, pois nunca vira um cerimonial tão diferente como aquele. Achou muito interessante que o padre tenha concordado com tudo isso dentro da Igreja. Depois pensou que melhor que seja assim hoje em dia. Todavia, Sandra não sabia que o melhor ainda estava por vir: o sino anunciou a chegada da carruagem que trouxe a noiva. Imediatamente, acrobatas presos por elásticos vestindo malhas vermelhas encheram o teto da Abadia cruzando de um lado para outro. Ninguém podia acreditar no belíssimo espetáculo, que durou o tempo em que a noiva saia da carruagem e era arrumada pelo cerimonial. Novamente, algo lindo e inovador: uma noiva nitidamente grávida que, ao invés de um buquê, trazia um bebê de colo usando apenas fraldas como uma madonna. Ela entrou cercada de quatro crianças maiores que carregavam lírios brancos e rosas vermelhas. A música também era uma marcha nupcial diferenciada, o que deu uma força sobre-humana àquela cena. Sandra era acostumada a transformar sonhos em realidade, mas nunca estivera numa situação como aquela e, por isso, não conteve as lágrimas ao ver a noiva entrando.

Durante a cerimônia tudo foi relativamente normal, com exceção da movimentação dos acrobatas para o grande final. Todos estavam curiosos para saber o que eles iriam fazer. Terminada a cerimônia com um beijo, a noiva pegou um dos buquês das crianças para sair. Os acrobatas começaram a cruzar a Abadia pelos ares jogando pétalas de rosas e papel laminado picado. Uma música do Cirque du Soleil muito alegre invadiu a Igreja. Na saída, muitas pessoas caracterizadas com as fantasias do Cirque du Soleil esperavam para jogar arroz nos noivos e uma enorme faixa vermelha e rosa metalizada foi colocada na passagem dos noivos com a palavra ‘LOVE’. ‘Casamento por Amor’, pensou Sandra. ‘Muito bom que ainda existam’.

Ela esperou que todos se retirassem para olhar os detalhes da decoração. Certamente, surgiriam pedidos de algo similar, mas ela concluiu que definitivamente os acrobatas estavam fora de questão. Foi até o altar dar uma olhada naquela cortina de teatro. Quando estava tocando o veludo vermelho chegou à conclusão que era definitivamente uma cortina de teatro real. Nesse momento escutou passos atrás da cortina e puxou para ver quem era: um belo homem todo de negro se virou e sorriu. “- Gostou do meu show?”, perguntou irônico. Ela não podia acreditar, mas era Saulo, o ator por quem ela fora apaixonada por todos aqueles anos. “- Achei lindo! Parecia um sonho!”. Ele sorriu e disse que tinha feito questão de patrocinar o matrimônio dos atores somente para aproximar a vida dele da dela e que jamais a havia esquecido. Final feliz para o Amor duplamente.

O casamento de Sandra e Saulo não foi um grande show, mas uma cerimônia muito simples na praia. Contudo, dentro de suas vidas e profissões os sonhos dos casamentos e dos espetáculos não param jamais.

Felicidades, sorte e sonhos sempre!

Eleonora Reis.

sábado, 2 de julho de 2011

Melodia Mágica


Edith, brasileira de origem francesa, herdara o nome da famosa cantora Edith Piaf. O pai de Edith era músico e tocava em bares noturnos praticamente desde o dia do seu nascimento até sua morte. A mãe, por sua vez, era atriz na rádio local e em algumas peças de teatro mambembe, pois seus sonhos mais altos estavam no Teatro de Revista ou mesmo no Teatro Municipal. Com tantos artistas numa só família – haviam outros como era de se esperar – a garota, que seguiu a carreira de professora primária era uma espécie de alienígena. Desde que ela tinha idade suficiente para estar de pé, a mãe ensinava o teatro e apresentações para as pessoas verem e se divertirem. A garotinha tímida fazia o que lhe mandavam, mas odiava tal condição com todas as suas forças. Com aquela idade e vivendo com seus pais ela não podia fazer nada diferente, sabia apenas que não queria ser atriz ou artista.

Foi nas letras que ela se encontrou: na literatura mais especificamente. Claro que se trata de uma forma de arte, mas mais subjetiva e sem grandes shows. Na realidade, nenhum show naquele tempo, pois ela não era uma escritora famosa, apenas lecionava para alunos da quinta série do ensino fundamental. Sua vida não tinha o brilho dos palcos, mas ela mergulhava num mundo imaginário que transformava sua vida em algo peculiar e interessante, acabando com a monotonia e toda a falsidade que estava a sua volta.

Numa ocasião, buscando a inspiração para a sua escrita, Edith abriu a janela da velha casa e sentiu o vento com seu aroma de outros lugares distantes. O vento trouxe um calor e um ‘q’ de notícia ou de algo novo se aproximando. Edith debruçou-se na janela olhando as folhas das árvores do grande bosque que a cercava. Existiam poucas casas naquela região, mas de uma em particular partiu um som melodioso de saxofone. Edith não sabia quem era, mas aquela música mudou seu pensamento imediatamente e encheu seu peito de paz e satisfação. A inspiração fluiu rapidamente e ela escreveu um belíssimo conto. No dia seguinte no mesmo horário, o saxofonista misterioso tocou sua música enquanto Edith escrevia sua literatura. No terceiro dia, Edith escutou a música e não resistiu: desceu as escadas do sobrado e, por entre as árvores, seguiu a melodia pelo bosque. Diante da casa de onde partia o som, tocou confiante a campainha e ouviu a melodia parar imediatamente. Sentiu um calafrio percorrer o corpo e o ventou soprou de forma diferente nas folhas das árvores. Através de um vitrô posicionado ao lado da porta, pode observar um vulto descendo as escadas. Sentiu receio no que estava fazendo e decidiu sair imediatamente dali. Agiu como uma menina que bate a campainha e depois corre para se esconder. A diferença é que ela fugiu fazendo questão de não olhar para traz. Dessa maneira, todos os dias no mesmo horário, ela escutava aquela música que inspiraram tantas histórias que ela escrevera ao longo da vida. Simplesmente pela mágica da melodia.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ciência e Religião


Ágil é como posso definir Frederico. Pensamentos e atitudes que sempre deixavam todos realmente surpresos. Mente complexa e surpreendente com habilidade para todas as ciências, mas também para as artes. Instintos aguçados e olhos de lince. Sabedoria de uma coruja e capacidade regenerativa de uma águia. O que era, afinal, Frederico?Algum tipo de alienígena infiltrado na sociedade ou um ciborg construído em laboratório? Nem um, nem outro: Frederico era um prodígio. Uma das mentes mais brilhantes de seu tempo e alcançara esse patamar por esforço e vontade próprios. Sua paixão eram os livros, além do espaço virtual, onde encontrava conteúdos ilimitados. Sua atitude era bastante arredia: vivia num mundo silencioso e seu, no qual podia meditar e ler. Creio que todos os autodidatas são assim: preferem o isolamento para desenvolver suas capacidades. Frederico vivera assim por muitos anos e, dessa maneira, sentia-se feliz.

Como era escritor, fora chamado para o lançamento do livro numa grande livraria de São Paulo. Chegando ao local, haviam duas mesas para autógrafos e uma mulher de bela aparência vestida de negro ao lado. Como ele achou aquilo tudo muito esquisito e imaginou que a tal mulher fosse da organização do evento, ele perguntou a ela quem estaria ali autografando ao seu lado. A mulher sorriu e disse que a autora do livro que estava exposto. Ele pegou o livro que apresentava uma capa verde e leu o título: ‘Caminho do Amor’. Frederico deu uma risada sonora, pois não via lógica em estar autografando seu livro de astrofísica ao lado de um de auto-ajuda. A mulher de negro pegou um exemplar e entregou a ele: “- Leve com você! Eu ganhei dois. Acho que talvez você goste da leitura.” Ele aceitou por educação colocando o livro dentro da pasta. Quando já estava cheio de pessoas a sua volta, ele olhou para o lado e viu no meio da multidão que a cercava a mulher de negro autografando os livros. Ela percebeu o olhar, sorriu e piscou para ele.

Ao chegar ao seu ‘território’, Frederico ficou curioso sobre o livro e, principalmente, sobre a mulher. Abriu a contracapa e leu sobre ela: Claire De Lorena, doutora em letras pela USP, além de vários cursos sobre filosofia e religião em diversas instituições no mundo. Achou tudo muito curioso e resolveu ler sobre o assunto que ela escrevia. Sentou-se confortavelmente numa cadeira, ligou o abajur e apenas se levantou quando terminou. Ele tinha os olhos marejados de lágrimas e um sentimento muito forte dentro do peito. Sentimento esse que, até então, desconhecia. O que ele tinha absoluta certeza é que precisava conversar com aquela mulher novamente: sentiu uma necessidade tão grande que mesmo naquela hora da madrugada - eram em torno de duas horas – se houvesse possibilidade de comunicação ele entraria em contato. Sentou-se diante do computador e pesquisou o nome dela no Google: finalmente encontrou o e-mail, que já era uma porta para chegar até ela. Pensou muito e escreveu seu texto, depois foi deitar-se, mas não conseguia dormir. Claire despertou nele algo adormecido, uma verdade que ele não achava que existia, pois via as coisas de forma cética e lógica.

No dia seguinte, às onze horas da manhã o celular de Frederico tocou: “-Bom dia! Meu nome é Claire, você me enviou um e-mail ontém. Estou em sua cidade e achei que seria interessante se marcássemos o encontro que você sugeriu para hoje, pois retorno amanhã cedo.” Frederico sentiu um frio na espinha, mas combinou um almoço com Claire. Quando foi se vestir parecia um colegial de tão inseguro sobre a aparência. Chegou muito cedo ao local marcado e ficou observando todas as pessoas que entravam. Claire chegou vestida de azul claro com um largo sorriso estampado no rosto. Apertou a mão dele e disse baixinho: “- Sabia que você entraria em contato, pois nada é por acaso nessa vida.” Ele a olhou com dúvida, mas teve que se render aos encantos e à filosofia dela.

Frederico e Claire namoraram por um bom tempo: ele a ensinou sobre ciência e artes; ela o ensinou sobre religião e filosofia. Os dois formavam um belo par e eram absolutamente complementares. O casamento foi celebrado por uma pastora numa pequena capela no alto de uma colina.

A união entre a ciência e a religião no caminho do Amor é perfeita e exemplar: só tende a gerar bons frutos.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.