'Para desvendar a vida não bastam as ciências, são necessárias também as letras e as artes. E para viver a vida verdadeira, a vida por inteiro, é preciso a ela entregar-se com amor e paixão'.


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Amor Familiar


Naquela tarde ensolarada Clarice olhou pela janela e sentiu vontade de andar pelos campos de lavanda. Ela colocou um vestido simples, um chapéu de palha e saiu pelo jardim do antigo sobrado respirando o ar fresco e perfumado da primavera. Sentia-se particularmente feliz no meio da natureza e, enquanto caminhava, gostava de tocar as plantas e as flores de lavanda. Os pássaros cantavam uma melodia adorável e a acompanhavam pelo caminho. Percebeu um barulho atrás e viu sua filha sorrindo e correndo em sua direção. A menina era absolutamente linda: tinha o rosto parecido com o dela, mas os olhos doces do Pai. Assim como o Pai e a Mãe, Maria Cristina adorava ficar sentada no banco do jardim admirando o canto dos pássaros. Naquela região onde moravam havia muitos e, dessa forma, o sobrado estava sempre cheio deles. Clarice chegou a construir um pequeno viveiro totalmente sem grades e colocava alimento e água para eles todos os dias. A música parecia a de uma orquestra pela manhã e no final da tarde. Dessa maneira, a menina foi acostumada com o canto dos pássaros desde bebê e sentia-se muito à vontade perto deles. Muitos pássaros a conheciam e pousavam no seu ombro. Ela, que tinha agora sete anos, achava graça e brincava com eles.

Naquele dia elas se abraçaram e rodopiaram até caírem na grama alta. Deram risadas juntas e depois sentaram lado a lado. A Mãe sempre trazia consigo um volume para ler após a caminhada. Ela acostumou a criança a escutar a leitura. Dessa forma, ensinava poesia, filosofia e religião para a garota desde tenra idade. Como isso acontecia desde que ela era bebê, a garota achava muito natural escutar a leitura da Mãe. Ali ficaram as duas por um bom tempo lendo e escutando a doce melodia dos pássaros. Clarice escolhera naquela tarde uma fábula de cavaleiros medievais e castelos assombrados. A menina ficou com medo dos barulhos do castelo assombrado, mas a Mãe disse que era apenas uma história. Ela explicou que, o que importava mesmo, é que no final da história o cavaleiro salvava a donzela e eles eram felizes para sempre. A garota sorriu, inclinou a cabeça para o lado e perguntou: ‘Mamãe, o Papai salvou você?’. Clarice não conteve o riso e explicou que o Amor do Pai salvava ela todos os dias. A garota levantou satisfeita com seu vestido rodado e um pássaro pousou em seu ombro. Clarice se levantou e pegou a garota pela mão: caminharam juntas em meio a flores de lavanda por algum tempo e conversavam sobre o Amor. A Mãe ensinava a ela que o mais importante do que tudo na vida era Amar e ser Amada. Contou à filha que naquela mesma região havia vivido uma mulher muito boa, mas que havia sofrido por causa de um Amor. Ela explicou que um jovem cavaleiro havia cuidado dela com Amor verdadeiro e a curou de muitos males e dores emocionais. A garota perguntou curiosa: ‘Você conheceu ela Mamãe?’. Clarice sacudiu a cabeça dizendo que não enquanto abaixou-se para colher um copo-de-leite do jardim que entregou a filha. Voltaram juntas ao sobrado e encontraram Jessé, o filho mais velho do casal.

O Pai chegou em casa na hora da cantoria dos pássaros: tirou o chapéu e o casaco. Veio sorrindo e abraçou as duas de uma só vez, depois deu um beijo em cada uma. Em seguida, abraçou bem forte o filho e disse que tinha uma surpresa. As duas se olharam curiosas. Ele tirou do bolso quatro ingressos e disse que iriam ao teatro. Todos ficaram radiantes e Clarice perguntou qual era a peça. ‘A Lenda do Rei Arthur’, ele respondeu. A menina arregalou os olhos e disse que era livro que elas estavam lendo. O Pai sorriu e disse que não sabia disso. Olhou para Clarisse e piscou o olho.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

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