'Para desvendar a vida não bastam as ciências, são necessárias também as letras e as artes. E para viver a vida verdadeira, a vida por inteiro, é preciso a ela entregar-se com amor e paixão'.


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Jogos de Poder


Havia um clima de rivalidade entre as duas famílias: isso era evidente. Se reuniam como era tradição em todas ocasiões festivas da cidade, contudo sempre que havia uma oportunidade um dos membros manifestava o desejo de trair, de alguma forma, outro da família oposta. Por séculos fora assim e naquele momento não era diferente. A grande maioria dos membros de ambas famílias tinham posições importantes na cidade: seja política, seja nos negócios. Nem todos se envolviam na disputa de poder ou de ganância por maiores lucros, mas os poucos que o faziam geravam um desconforto coletivo, que nenhum membro ousava em contestar. E assim viviam os ricos comerciantes e políticos influentes nos seus pequenos ou grandes feudos e realizando, eventualmente, os seus jogos de poder.

O inesperado de tudo isso foi quando o senhor José Deodoro resolveu prometer a mão da sua filha Maribel em casamento a um rico comerciante local da família oposta a sua. Era um acordo que beneficiaria o comércio de ambos, ou seja, uma aliança financeira além da aliança. O jovem empreendedor chamado Arnaldo era um homem muito sagaz e ambicioso, sentia um orgulho interior de ser membro de sua família e aceitara casar-se com Maribel apenas pelas vantagens que isso traria em seus projetos de crescimento da empresa. Na realidade, ele só tinha olhos para uma moça prima sua, que era o grande Amor da sua vida.

O casamento foi um dos maiores eventos da cidade e saiu na coluna social de todos os jornais. O casal mal se conhecia e, por essa razão, não tiveram um grande entrosamento no início. Como era acostumado a viver muito sozinho, Arnaldo vivia em seu escritório fazendo seus cálculos e projetos. A mulher ficava bordando, mas nunca deixava de ler livros e jornais. Certa vez, foram numa reunião entre conhecidos das duas famílias e Maribel percebeu a hostilidade do marido com um primo dele integrante da outra família. Aquela foi a primeira vez, mas muitas outras vezes isso aconteceu, inclusive com ela. Era como se ele estivesse gradativamente desenvolvendo uma espécie de discriminação racial. Isso estava se manifestando em todo o seu comportamento. Isso culminou quando o marido veio contar feliz que tinha conseguido desapropriar terras de pessoas bem carentes e que pertenciam a família dela no caso. Naquela altura do relacionamento, a mulher que se mantinha sempre quieta e vivia uma vida quase que à parte resolveu chamar o marido no escritório, após a janta, para conversarem. ‘Eu tenho algumas coisas a dizer, você gostaria de me ouvir?’, disse ela em tom calmo. Ele ficou surpreso, mas sentou-se na poltrona, acendeu o cachimbo e pediu que ela continuasse. A mulher primeiro começou a falar sobre eles, que haviam casado sem Amor, mas que isso acabou acontecendo com a convivência. Ele consentiu, uma vez que havia esquecido suas aventuras por causa dela. ‘Se você me ama’, disse ela, ‘Como pode desejar o mal a alguém de minha família?’. Ela argumentou que ainda não tinham filhos, mas que quando isso acontecesse como ele iria encarar o sangue dele misturado com o dela, que era de outra família. Depois disso, a mulher pegou vários papéis com cálculos que ela mesmo fizera sobre as finanças do comércio deles. O homem ficou surpreso, pois era uma excelente perspectiva que seus contadores nunca haviam pensado. Ele a olhou incrédulo e perguntou se havia sido ela que tinha feito tudo aquilo sozinha. Ela disse que sim e que o que a motivou foi a desapropriação das famílias. ‘Eu gostaria de pedir que você devolvesse o teto a essas pessoas, pois você pode ganhar dinheiro dessa outra maneira que estou lhe apresentando.’ Ele deu uma tragada no cigarro e ficou pensativo. Não imaginava que sua mulher fosse capaz de tudo isso. ‘Gostaria ainda de pedir uma última coisa.’, disse ela. ‘Tente mudar seu comportamento em relação aos meus parentes, pois eles nunca fizeram nada a você.’ O homem sentiu-se envergonhado, juntou os papéis e deitou-se naquela noite com o firme propósito de mudar seu modo de ver as coisas.

Após aquela ocasião o marido discutia sempre os problemas da empresa com a mulher, que sempre dava boas sugestões. Sua conduta em relação aos familiares também mudou muito. Nesse caso o Amor dos dois trouxe a cura para um mal que freqüentemente acontece entre as pessoas: a rivalidade.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

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