'Para desvendar a vida não bastam as ciências, são necessárias também as letras e as artes. E para viver a vida verdadeira, a vida por inteiro, é preciso a ela entregar-se com amor e paixão'.


sábado, 7 de maio de 2011

Nova Vida


Marília não poderia estar mais feliz com sua vida. Era o início de um dia glorioso e ela se sentia absolutamente radiante. Levantou sorrateiramente para não acordar o marido. No final de semana ele merecia descansar até mais tarde. Foi até a janela da casa de madeira e abriu a veneziana prendendo com um pequeno graveto. O chão do pequeno casebre rangia enquanto ela saia de um cômodo para o outro. Quando abriu a segunda janela que dava para o mar a brisa e o sol invadiram a casa. Marília colocou seus chinelos, abriu a porta e foi até o pomar no fundo da casa para colher frutas para o café. O cachorro veio correndo a saudar latindo. Ela sorriu e depois seguiu em frente até o pomar. Começou a pensar como era afortunada de estar vivendo aquela vida e de como vivera momentos de horror no ano anterior.

Marília era casada com um grande negociante de peles da cidade. Vivia numa casa que parecia um palácio de tão grande e estava cercada de luxo por todos os lados. Qualquer mulher no mundo pensaria que aquela era a verdadeira vida de princesa, mas Marília se sentia muito infeliz. As razões de sua tristeza eram várias: o marido era muito hostil e agressivo, a insultava e menosprezava na frente de todas as pessoas como se ela fosse a última das criaturas. Sentia-se satisfeito em fazer isso. Depois vinha todo manso para pedir desculpas, mas na primeira oportunidade fazia tudo novamente. Ela, que era uma mulher feliz e bonita, perdeu completamente o brilho por conta dele. Assim, ela se afastou muito dele e o evitava sempre que possível. Isso aumentou a fúria do marido, que começou assediá-la mais ainda e aumentar sua infelicidade. Marília começou a ficar cada vez mais dentro de casa e num quarto isolado. Tudo que ela fazia era ler e tentar esquecer a vida que estava levando.

Numa ocasião, passeando pelo jardim da casa, viu um homem saindo de dentro de uma porta no subterrâneo da casa. Achou aquilo muito estranho e resolveu segui-lo. Ele olhou para traz surpreso e ela indagou quem ele era e o que fazia no subterrâneo da casa. Ele ficou meio sem jeito por saber que se tratava da mulher do patrão, tirou o boné e o segurou com as duas mãos contra o peito e explicou que era o novo jardineiro. Ela apenas consentiu e seguiu caminhando lentamente. Quando ela já estava há uma certa distância, ele indagou: ‘Madame, quais suas flores favoritas para que eu plante no jardim?’. Ela pensou um pouco e respondeu:’Plante lírios brancos e rosas vermelhas.’ E seguiu com o olhar mais triste que o jardineiro já havia visto. Ele sentiu muita pena daquela mulher, mas não sabia como ajudá-la. Conforme o pedido da patroa ele cultivou belos lírios e rosas. Quando as flores já estavam vistosas ele colheu um buquê e deixou na janela do quarto onde ela ficava. Na manhã seguinte, quando ela abriu a janela deu um lindo sorriso de alegria. Procurou o jardineiro e perguntou se havia sido ele que entregara as flores. Ele ficou muito envergonhado, mas admitiu que sim. Ela achou graça e voltou para o interior da casa.

Quando chegou lá o buquê estava no chão todo pisoteado e o marido bufando de raiva ao lado. ‘Você arranjou um amante? Fica dando uma de pura e boazinha que não sai de casa, mas está me traído pelas costas!’. Nesse momento, ele a pegou pelo braço e a empurrou no chão com o rosto nas flores despedaçadas. ‘Quem é ele? Me diga! Quem é o seu amante?!’, ele esbravejava. Ela começou a chorar assustada e disse que não tinha amante nenhum e que eram flores do jardim. Ele não se conteve, pegou-a pelo braço e a arrastou até a porta de casa, puxou-a pelas escadarias abaixo indo em direção ao portão. Nisso apareceu o jardineiro, que pediu que ele tivesse misericórdia dela, pois ela não tinha culpa. ‘Fui eu que levei as flores.’, finalmente disse ele. ‘Agora eu peço que o senhor deixe a dama em paz e se quiser me despedir eu vou entender.’ O marido parecia que ia explodir de tanta raiva, pegou os dois pelo braço, abriu o portão e os emburrou na sarjeta. O jardineiro ajudou a dama a se levantar enquanto o marido fechava o portão atrás deles. ‘A senhora tem onde passar a noite?’, perguntou ele preocupado. ‘Não, toda a minha vida está dentro da propriedade.’ Ele, então, explicou que tinha uma casa muito humilde perto da praia que poderia servir de abrigo para aquela noite. Ela concordou, mas quando lá chegaram não pode acreditar na delicadeza do homem, que a deixou dormir sozinha na casa e dormiu numa rede do lado de fora. Ela não estava acostumada com esse tipo de cuidados.

No dia seguinte, o marido não permitiu que ela entrasse no interior da propriedade e a acusou de adúltera para que toda cidade soubesse. O jardineiro, que também era pescador, começou a sobreviver da pesca. Ela vivia de favor na casa dele e, por longos meses, o jardineiro pescador dormiu ao relento. Entre eles surgiu uma amizade profunda e, logo em seguida, um lindo Amor. Ele soube esperar até que ela se separasse para então pedir sua mão em casamento. Contudo, todas as noites antes do casamento, ele deixava uma flor para ela do lado de fora da janela.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

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