'Para desvendar a vida não bastam as ciências, são necessárias também as letras e as artes. E para viver a vida verdadeira, a vida por inteiro, é preciso a ela entregar-se com amor e paixão'.


sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Menina do Sobrado


Abraão tinha onze anos e precisava comprar um presente para o Dia das Mães. O Pai recomendou que ele escolhesse uma bolsa nova, pois sabia que a Mãe estava precisando de uma. Deixou o menino no shopping com o cartão de crédito e pediu que não comprasse mais nada além do presente. Chegando numa grande loja de calçados, o menino ficou distraído com tantas opções que tinha, contudo olhou para o lado direito e viu uma sessão de esportes na loja. Chegando lá viu uma bola de vôlei que há muito tempo estava desejando. Não pensou duas vezes: pegou a primeira bolsa que viu e pediu para embrulhar para presente e levou a bola consigo. Voltou logo para casa, guardou o presente da Mãe e foi até uma casa abandonada na frente do seu prédio treinar o vôlei. Quando deu uma manchete mais forte a bola quebrou uma das vidraças do segundo piso da casa. O menino não sabia o que fazer, pois nunca entrara ali e a casa estava fechada por anos. Tentou abrir a maçaneta da porta da frente, mas estava trancada. Passou pelo pátio para ir até os fundos e viu que todas as janelas estavam pregadas em ‘X’, impedindo de abrir. Chegou aos fundos e a porta também estava lacrada. Passou no outro lado do pátio, olhou para cima e viu uma pequena fresta numa janela: resolveu procurar uma escada e, por sorte, encontrou. Colocou a escada no ângulo e começou a subir com cuidado. A janela também estava fechada, contudo ele percebeu que o trinco não estava totalmente preso. Ele tentou abrir a janela cuidadosamente, o trinco se soltou e ele levantou o vidro e entrou para o interior do sobrado.

Chegando ao interior da casa o rapaz se surpreendeu, pois embora estivesse abandonada, os móveis e objetos pareciam em uso. Foi até a peça em que a bola atingiu o vidro e, enquanto a estava juntando, ouviu passos atrás dele e olhou rapidamente. ‘Olá, como vai?’, perguntou a garota que tinha mais o menos a sua idade. Ele arregalou os olhos e perguntou: ’Você vive aqui?’. Ela sorriu e simplesmente disse que estava esperando a visita dele há algum tempo e que tinha algo que queria que ele tomasse conhecimento. O menino achou muito curioso, mas ficou esperando enquanto ela ia até uma estante e pegava um enorme e antigo livro. Ela sentou-se ao lado dele e começou a contar histórias de um tempo muito antigo, a mostrar figuras que levavam a genealogia de famílias, a figuras místicas e textos católicos. O menino achou tudo muito diferente e interessante. Ficaram olhando o livro por toda tarde. Então, a menina disse que ele devia ir. Ele não gostou, mas como era visita pegou sua bola e desceu a escadaria em caracol do sobrado. A menina abriu a porta e disse que ele poderia voltar no dia seguinte.

No outro dia, o menino entregou o presente de Dia das Mães e almoçou com a família. Em seguida, atravessou a rua e foi até o sobrado. Bateu na porta, mas ninguém abriu. Deu a volta na casa e tudo parecia fechado, contudo a escada estava no ângulo da janela. Ele subiu, abriu a vidraça e entrou. Chegando lá dentro não encontrou ninguém: apenas o livro sobre a antiga escrivaninha. Quando ele se sentou diante da página ficou assustado: estava aberto na árvore genealógica de uma família que apresentava a pintura das pessoas. Percebeu que a menina estava ali e que, pertencia a mesma família que dera origem a sua, tendo inclusive o mesmo sobrenome. Ao lado do livro estava a Torá, o Novo Testamento e um bilhete: ‘A leitura nos ensina e remete ao passado para entendermos o presente. Leve esses livros com você e cultive esse hábito. Da sua prima Maryam. ’ O menino segurou os três livros, desceu a escadaria em caracol como havia feito no dia anterior e tentou abrir a porta, mas essa estava completamente lacrada, assim como todas as outras que ele verificou naquele piso. Ele, então, subiu novamente no segundo piso e teve que descer pela escada próxima à janela, tomando cuidado para não cair. A partir daquele dia, o menino leu o manuscrito antigo que falava de várias coisas, mas tratava principalmente do Amor; leu um pouco da Torá e um pouco do Novo Testamento, que conhecia mais, pois freqüentava a Igreja Católica. Certo dia, sentiu curiosidade e voltou ao sobrado para ver se encontrava sua prima: chegando lá verificou que todas as janelas estavam lacradas em ‘X’, inclusive àquela que foi atingida pela bola e a outra pela qual ele entrou. Ele achou aquilo muito misterioso, mas não sentiu medo. Sabia que tudo que acontecera foi para ajudá-lo a entender mais quem ele realmente era. Pegou um pequeno pedaço de papel e escreveu o seguinte bilhete: ‘ Maryam, obrigado pelas leituras. O Amor mudou meu modo de ver todas as coisas. Com carinho, Abraão. ’ . Dobrou o papel e colocou por debaixo da porta.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

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