'Para desvendar a vida não bastam as ciências, são necessárias também as letras e as artes. E para viver a vida verdadeira, a vida por inteiro, é preciso a ela entregar-se com amor e paixão'.


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Jogos de Poder


Havia um clima de rivalidade entre as duas famílias: isso era evidente. Se reuniam como era tradição em todas ocasiões festivas da cidade, contudo sempre que havia uma oportunidade um dos membros manifestava o desejo de trair, de alguma forma, outro da família oposta. Por séculos fora assim e naquele momento não era diferente. A grande maioria dos membros de ambas famílias tinham posições importantes na cidade: seja política, seja nos negócios. Nem todos se envolviam na disputa de poder ou de ganância por maiores lucros, mas os poucos que o faziam geravam um desconforto coletivo, que nenhum membro ousava em contestar. E assim viviam os ricos comerciantes e políticos influentes nos seus pequenos ou grandes feudos e realizando, eventualmente, os seus jogos de poder.

O inesperado de tudo isso foi quando o senhor José Deodoro resolveu prometer a mão da sua filha Maribel em casamento a um rico comerciante local da família oposta a sua. Era um acordo que beneficiaria o comércio de ambos, ou seja, uma aliança financeira além da aliança. O jovem empreendedor chamado Arnaldo era um homem muito sagaz e ambicioso, sentia um orgulho interior de ser membro de sua família e aceitara casar-se com Maribel apenas pelas vantagens que isso traria em seus projetos de crescimento da empresa. Na realidade, ele só tinha olhos para uma moça prima sua, que era o grande Amor da sua vida.

O casamento foi um dos maiores eventos da cidade e saiu na coluna social de todos os jornais. O casal mal se conhecia e, por essa razão, não tiveram um grande entrosamento no início. Como era acostumado a viver muito sozinho, Arnaldo vivia em seu escritório fazendo seus cálculos e projetos. A mulher ficava bordando, mas nunca deixava de ler livros e jornais. Certa vez, foram numa reunião entre conhecidos das duas famílias e Maribel percebeu a hostilidade do marido com um primo dele integrante da outra família. Aquela foi a primeira vez, mas muitas outras vezes isso aconteceu, inclusive com ela. Era como se ele estivesse gradativamente desenvolvendo uma espécie de discriminação racial. Isso estava se manifestando em todo o seu comportamento. Isso culminou quando o marido veio contar feliz que tinha conseguido desapropriar terras de pessoas bem carentes e que pertenciam a família dela no caso. Naquela altura do relacionamento, a mulher que se mantinha sempre quieta e vivia uma vida quase que à parte resolveu chamar o marido no escritório, após a janta, para conversarem. ‘Eu tenho algumas coisas a dizer, você gostaria de me ouvir?’, disse ela em tom calmo. Ele ficou surpreso, mas sentou-se na poltrona, acendeu o cachimbo e pediu que ela continuasse. A mulher primeiro começou a falar sobre eles, que haviam casado sem Amor, mas que isso acabou acontecendo com a convivência. Ele consentiu, uma vez que havia esquecido suas aventuras por causa dela. ‘Se você me ama’, disse ela, ‘Como pode desejar o mal a alguém de minha família?’. Ela argumentou que ainda não tinham filhos, mas que quando isso acontecesse como ele iria encarar o sangue dele misturado com o dela, que era de outra família. Depois disso, a mulher pegou vários papéis com cálculos que ela mesmo fizera sobre as finanças do comércio deles. O homem ficou surpreso, pois era uma excelente perspectiva que seus contadores nunca haviam pensado. Ele a olhou incrédulo e perguntou se havia sido ela que tinha feito tudo aquilo sozinha. Ela disse que sim e que o que a motivou foi a desapropriação das famílias. ‘Eu gostaria de pedir que você devolvesse o teto a essas pessoas, pois você pode ganhar dinheiro dessa outra maneira que estou lhe apresentando.’ Ele deu uma tragada no cigarro e ficou pensativo. Não imaginava que sua mulher fosse capaz de tudo isso. ‘Gostaria ainda de pedir uma última coisa.’, disse ela. ‘Tente mudar seu comportamento em relação aos meus parentes, pois eles nunca fizeram nada a você.’ O homem sentiu-se envergonhado, juntou os papéis e deitou-se naquela noite com o firme propósito de mudar seu modo de ver as coisas.

Após aquela ocasião o marido discutia sempre os problemas da empresa com a mulher, que sempre dava boas sugestões. Sua conduta em relação aos familiares também mudou muito. Nesse caso o Amor dos dois trouxe a cura para um mal que freqüentemente acontece entre as pessoas: a rivalidade.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

domingo, 8 de maio de 2011

Artes e Informação


Eu sou uma apaixonada pelas artes. Quem me conhece sabe que amo qualquer tipo de manifestação artística: seja cinema, literatura, música ou outras. Não poderia ser diferente, uma vez que eu mesma gosto de me manifestar através da escrita. O maior problema que tenho visto nas artes nos últimos tempos é uma certa insistência em certos assuntos que acabam por ‘engessar’ a ampla gama de temas interessantíssimos que poderiam ser abordados. Se formos pensar sobre a literatura brasileira e/ou sobre a literatura mundial, quantos séculos de escritores oferecendo os mais ricos textos e as melhores histórias para serem reproduzidas em montagens teatrais ou cinematográficas. Claro que também não podemos esquecer dos incontáveis escritores da atualidade. Mas, infelizmente, não tenho encontrado grandes atrações, principalmente nos cinemas. Havia um tempo em que o espetáculo realmente enchia os olhos e elevava a alma. Hoje, os temas parecem se repetir de uma sala de cinema para a outra. Falsidade, sexo, intrigas, traições, violência, vícios, humor esdrúxulo, falta de caráter e ausência de Amor em praticamente todas produções. O Amor, quando aparece, é algo tão sutil quanto um beijo no final do filme. Estou comentando mais sobre cinema porque creio ser algo que as pessoas gostam de fazer para se divertir no final de semana. Quem de sã consciência sai alegre de um filme de guerra e violência? Eu sei que alguns gostam do gênero, mas alegres certamente não saem.

Agora vou estender esse comentário também aos programas de televisão: será que é minha impressão ou os temas também parecem incansavelmente repetitivos? Penso o seguinte a respeito disso: quando se tem um veículo de comunicação de massa, se pode fazer tantas coisas positivas para ajudar tantas pessoas que ficar com o dedo sempre sobre a mesma tecla é deixar de crescer e ajudar todos esses que têm os olhos fixos na tela buscando aprender algo de bom. Eu fico relembrando tempos de ouro como a Belle Époque, por exemplo, que foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa: uma época marcada por profundas transformações culturais que se traduziram em novos modos de pensar e viver o cotidiano. A informação é valiozíssima para ser desperdiçada com tão pouco como vem acontecendo. O uso correto dela pode transformar uma nação inteira e promover um crescimento tão assustadoramente fabuloso ao país e, principalmente, ao seu povo, que nos colocaria entre os grandes do mundo. A televisão é o divertimento de todos depois de um dia exaustivo de trabalho: se os programas tornarem-se mais ricos de informações boas e valiozas, além de divertidos, estarão melhorando a cultura e o conhecimento do povo.

Claro que eu não poderia deixar de citar que um desejo secreto meu era que o Amor fosse mais valorizado. Bem, acho que isso não é segredo há muito tempo na verdade. Faço esse comentário porque penso que se o Amor estiver presente nas produções – ou em pelo menos parte delas – isso tornaria as pessoas mais felizes. Acreditar em dias melhores e de paz, acreditar efetivamente no Amor faz bem para a mente e para a alma, o que já seria algo transformador para o nosso tempo.

Sonhar com belas artes, pessoas mais felizes e dias melhores é um dos meus maiores defeitos. Quem sabe não seria a minha maior qualidade? Creio que a melhor maneira de prender o imaginário de alguém é dando asas a infinitas maneiras de alcançar à verdadeira e eterna felicidade.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

sábado, 7 de maio de 2011

Nova Vida


Marília não poderia estar mais feliz com sua vida. Era o início de um dia glorioso e ela se sentia absolutamente radiante. Levantou sorrateiramente para não acordar o marido. No final de semana ele merecia descansar até mais tarde. Foi até a janela da casa de madeira e abriu a veneziana prendendo com um pequeno graveto. O chão do pequeno casebre rangia enquanto ela saia de um cômodo para o outro. Quando abriu a segunda janela que dava para o mar a brisa e o sol invadiram a casa. Marília colocou seus chinelos, abriu a porta e foi até o pomar no fundo da casa para colher frutas para o café. O cachorro veio correndo a saudar latindo. Ela sorriu e depois seguiu em frente até o pomar. Começou a pensar como era afortunada de estar vivendo aquela vida e de como vivera momentos de horror no ano anterior.

Marília era casada com um grande negociante de peles da cidade. Vivia numa casa que parecia um palácio de tão grande e estava cercada de luxo por todos os lados. Qualquer mulher no mundo pensaria que aquela era a verdadeira vida de princesa, mas Marília se sentia muito infeliz. As razões de sua tristeza eram várias: o marido era muito hostil e agressivo, a insultava e menosprezava na frente de todas as pessoas como se ela fosse a última das criaturas. Sentia-se satisfeito em fazer isso. Depois vinha todo manso para pedir desculpas, mas na primeira oportunidade fazia tudo novamente. Ela, que era uma mulher feliz e bonita, perdeu completamente o brilho por conta dele. Assim, ela se afastou muito dele e o evitava sempre que possível. Isso aumentou a fúria do marido, que começou assediá-la mais ainda e aumentar sua infelicidade. Marília começou a ficar cada vez mais dentro de casa e num quarto isolado. Tudo que ela fazia era ler e tentar esquecer a vida que estava levando.

Numa ocasião, passeando pelo jardim da casa, viu um homem saindo de dentro de uma porta no subterrâneo da casa. Achou aquilo muito estranho e resolveu segui-lo. Ele olhou para traz surpreso e ela indagou quem ele era e o que fazia no subterrâneo da casa. Ele ficou meio sem jeito por saber que se tratava da mulher do patrão, tirou o boné e o segurou com as duas mãos contra o peito e explicou que era o novo jardineiro. Ela apenas consentiu e seguiu caminhando lentamente. Quando ela já estava há uma certa distância, ele indagou: ‘Madame, quais suas flores favoritas para que eu plante no jardim?’. Ela pensou um pouco e respondeu:’Plante lírios brancos e rosas vermelhas.’ E seguiu com o olhar mais triste que o jardineiro já havia visto. Ele sentiu muita pena daquela mulher, mas não sabia como ajudá-la. Conforme o pedido da patroa ele cultivou belos lírios e rosas. Quando as flores já estavam vistosas ele colheu um buquê e deixou na janela do quarto onde ela ficava. Na manhã seguinte, quando ela abriu a janela deu um lindo sorriso de alegria. Procurou o jardineiro e perguntou se havia sido ele que entregara as flores. Ele ficou muito envergonhado, mas admitiu que sim. Ela achou graça e voltou para o interior da casa.

Quando chegou lá o buquê estava no chão todo pisoteado e o marido bufando de raiva ao lado. ‘Você arranjou um amante? Fica dando uma de pura e boazinha que não sai de casa, mas está me traído pelas costas!’. Nesse momento, ele a pegou pelo braço e a empurrou no chão com o rosto nas flores despedaçadas. ‘Quem é ele? Me diga! Quem é o seu amante?!’, ele esbravejava. Ela começou a chorar assustada e disse que não tinha amante nenhum e que eram flores do jardim. Ele não se conteve, pegou-a pelo braço e a arrastou até a porta de casa, puxou-a pelas escadarias abaixo indo em direção ao portão. Nisso apareceu o jardineiro, que pediu que ele tivesse misericórdia dela, pois ela não tinha culpa. ‘Fui eu que levei as flores.’, finalmente disse ele. ‘Agora eu peço que o senhor deixe a dama em paz e se quiser me despedir eu vou entender.’ O marido parecia que ia explodir de tanta raiva, pegou os dois pelo braço, abriu o portão e os emburrou na sarjeta. O jardineiro ajudou a dama a se levantar enquanto o marido fechava o portão atrás deles. ‘A senhora tem onde passar a noite?’, perguntou ele preocupado. ‘Não, toda a minha vida está dentro da propriedade.’ Ele, então, explicou que tinha uma casa muito humilde perto da praia que poderia servir de abrigo para aquela noite. Ela concordou, mas quando lá chegaram não pode acreditar na delicadeza do homem, que a deixou dormir sozinha na casa e dormiu numa rede do lado de fora. Ela não estava acostumada com esse tipo de cuidados.

No dia seguinte, o marido não permitiu que ela entrasse no interior da propriedade e a acusou de adúltera para que toda cidade soubesse. O jardineiro, que também era pescador, começou a sobreviver da pesca. Ela vivia de favor na casa dele e, por longos meses, o jardineiro pescador dormiu ao relento. Entre eles surgiu uma amizade profunda e, logo em seguida, um lindo Amor. Ele soube esperar até que ela se separasse para então pedir sua mão em casamento. Contudo, todas as noites antes do casamento, ele deixava uma flor para ela do lado de fora da janela.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

Dia das Mães



Infância

Maria Rita corria pelo gramado da frente da casa de veraneio tentando alcançar uma borboleta amarela. A Mãe cozinhava diante da janela e achava graça da garotinha. ‘Filha, cuidado para não cair!’, gritou ela. Rita riu alto enquanto seguia a borboleta. A Mãe desligou as panelas, limpou as mãos num pano de copa e foi até a menina. Segurou-a no colo e rodopiou com a pequena. Ela parecia um anjo com seus cabelos encaracolados que brilhavam no sol. As duas sentaram no degrau da escada que levava à entrada e ficaram brincando por um tempo. A mãe abraçou Rita e disse que ela era o presente mais lindo que Deus dera a ela. A garotinha inclinou a cabeça pensativa, fez um carinho no rosto da Mãe e disse: ‘Te amo Mamãe!’. Um pequeno e inesquecível momento do cotidiano.

Adolescência

Estela estava agitadíssima, pois estava se preparando para seu primeiro baile de debutantes. Além disso, ela faria parte do bolo vivo e, dessa maneira, sua ansiedade era redobrada. Colocou o vestido branco rodado e foi se maquiar: como não tinha nenhuma prática com isso borrou o rosto e ficou tão nervosa que começou a chorar. Foi até o escritório da mãe aos prantos. A mãe abraçou a garota e perguntou o que estava acontecendo. Ela explicou tudo. A mãe achou graça, enxugou o rosto da filha e o segurou com as duas mãos dizendo: ‘Minha filha, você tem uma beleza natural, não precisa pintar o rosto. Coloque apenas um brilho nos lábios. Vamos até seu quarto que vou arrumar seu cabelo e colocar um pregador que usei no meu primeiro baile de debutantes. Você vai ficar linda. ’ Assim, a mãe prendeu parte do cabelo da garota e a aprontou. De fato ela ficou muito bonita. A mãe não resistiu e tirou uma foto para guardar aquela lembrança. Depois, levou a menina até o local do evento. Quando viu a garota sair do carro e se encontrar com várias amigas teve certeza que uma nova fase estava começando e que perdera para sempre a sua bebê.

Idade Adulta

Dona Noemi andava com os nervos à flor da pele. Tudo por conta do casamento da filha Magdelen. Mesmo já tendo passado por isso anteriormente com seu filho Josué, quando se trata de ser a mãe da noiva isso implica em participação direta na organização de tudo. Eles eram judeus e tudo precisava estar em perfeita ordem segundo manda a tradição. Finalmente chegou a véspera do grande dia: Magdelen deitou-se cedo para estar bem descansada e sem olheiras. Todos apagaram as luzes por voltas das 22h. Passado mais ou menos uma hora, Magdelen continuava sem conseguir dormir. Acendeu a luz do abajur e ficou pensando no que poderia fazer. Nunca tomara medicamentos para dormir, mas sentia que devido à ansiedade não conseguiria pegar no sono naquela noite. No escuro foi pé por pé até o quarto dos pais. Entrou devagar e ajoelhou-se ao lado da mãe, falando baixinho: ’Mãe, acorda, preciso de uma ajuda. ’, e Magdelen explicou o problema. As duas foram juntas até a cozinha onde a mãe preparou um chá para a filha. As duas se deitaram e novamente apagaram as luzes. Por volta da meia noite, Magdelen continuava sem dormir pensando em todos os detalhes. Foi até o quarto da mãe novamente para pedir ajuda. As duas foram até a sala e ficaram sem saber o que fazer. Dona Noemi teve a idéia de bater na casa da vizinha e perguntar se tinha algum calmante. Dona Maria Aparecida, que era uma senhora idosa muito amiga da família, tinha um fitoterápico para ansiedade, mas sugeriu que elas fizessem uma oração para acalmar a noiva. Sentaram-se as três: Dona Maria Aparecida, que era católica, trouxe seu terço e rezava o Pai-Nosso; já a mãe e a filha rezavam a mesma oração judaica. Um momento ecumênico que deu certo: a noiva deitou-se e só acordou no outro dia com uma pele de pêssego.

Desejo a todas as Mães um dia maravilhoso, cheio de comemoração e alegrias! Ser mãe é um presente divino: é a possibilidade de gerar a vida e dar continuidade à espécie humana no nosso planeta. Deus abençoe a todas as Mães e que Jesus esteja sempre guiando todos os seus passos.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Menina do Sobrado


Abraão tinha onze anos e precisava comprar um presente para o Dia das Mães. O Pai recomendou que ele escolhesse uma bolsa nova, pois sabia que a Mãe estava precisando de uma. Deixou o menino no shopping com o cartão de crédito e pediu que não comprasse mais nada além do presente. Chegando numa grande loja de calçados, o menino ficou distraído com tantas opções que tinha, contudo olhou para o lado direito e viu uma sessão de esportes na loja. Chegando lá viu uma bola de vôlei que há muito tempo estava desejando. Não pensou duas vezes: pegou a primeira bolsa que viu e pediu para embrulhar para presente e levou a bola consigo. Voltou logo para casa, guardou o presente da Mãe e foi até uma casa abandonada na frente do seu prédio treinar o vôlei. Quando deu uma manchete mais forte a bola quebrou uma das vidraças do segundo piso da casa. O menino não sabia o que fazer, pois nunca entrara ali e a casa estava fechada por anos. Tentou abrir a maçaneta da porta da frente, mas estava trancada. Passou pelo pátio para ir até os fundos e viu que todas as janelas estavam pregadas em ‘X’, impedindo de abrir. Chegou aos fundos e a porta também estava lacrada. Passou no outro lado do pátio, olhou para cima e viu uma pequena fresta numa janela: resolveu procurar uma escada e, por sorte, encontrou. Colocou a escada no ângulo e começou a subir com cuidado. A janela também estava fechada, contudo ele percebeu que o trinco não estava totalmente preso. Ele tentou abrir a janela cuidadosamente, o trinco se soltou e ele levantou o vidro e entrou para o interior do sobrado.

Chegando ao interior da casa o rapaz se surpreendeu, pois embora estivesse abandonada, os móveis e objetos pareciam em uso. Foi até a peça em que a bola atingiu o vidro e, enquanto a estava juntando, ouviu passos atrás dele e olhou rapidamente. ‘Olá, como vai?’, perguntou a garota que tinha mais o menos a sua idade. Ele arregalou os olhos e perguntou: ’Você vive aqui?’. Ela sorriu e simplesmente disse que estava esperando a visita dele há algum tempo e que tinha algo que queria que ele tomasse conhecimento. O menino achou muito curioso, mas ficou esperando enquanto ela ia até uma estante e pegava um enorme e antigo livro. Ela sentou-se ao lado dele e começou a contar histórias de um tempo muito antigo, a mostrar figuras que levavam a genealogia de famílias, a figuras místicas e textos católicos. O menino achou tudo muito diferente e interessante. Ficaram olhando o livro por toda tarde. Então, a menina disse que ele devia ir. Ele não gostou, mas como era visita pegou sua bola e desceu a escadaria em caracol do sobrado. A menina abriu a porta e disse que ele poderia voltar no dia seguinte.

No outro dia, o menino entregou o presente de Dia das Mães e almoçou com a família. Em seguida, atravessou a rua e foi até o sobrado. Bateu na porta, mas ninguém abriu. Deu a volta na casa e tudo parecia fechado, contudo a escada estava no ângulo da janela. Ele subiu, abriu a vidraça e entrou. Chegando lá dentro não encontrou ninguém: apenas o livro sobre a antiga escrivaninha. Quando ele se sentou diante da página ficou assustado: estava aberto na árvore genealógica de uma família que apresentava a pintura das pessoas. Percebeu que a menina estava ali e que, pertencia a mesma família que dera origem a sua, tendo inclusive o mesmo sobrenome. Ao lado do livro estava a Torá, o Novo Testamento e um bilhete: ‘A leitura nos ensina e remete ao passado para entendermos o presente. Leve esses livros com você e cultive esse hábito. Da sua prima Maryam. ’ O menino segurou os três livros, desceu a escadaria em caracol como havia feito no dia anterior e tentou abrir a porta, mas essa estava completamente lacrada, assim como todas as outras que ele verificou naquele piso. Ele, então, subiu novamente no segundo piso e teve que descer pela escada próxima à janela, tomando cuidado para não cair. A partir daquele dia, o menino leu o manuscrito antigo que falava de várias coisas, mas tratava principalmente do Amor; leu um pouco da Torá e um pouco do Novo Testamento, que conhecia mais, pois freqüentava a Igreja Católica. Certo dia, sentiu curiosidade e voltou ao sobrado para ver se encontrava sua prima: chegando lá verificou que todas as janelas estavam lacradas em ‘X’, inclusive àquela que foi atingida pela bola e a outra pela qual ele entrou. Ele achou aquilo muito misterioso, mas não sentiu medo. Sabia que tudo que acontecera foi para ajudá-lo a entender mais quem ele realmente era. Pegou um pequeno pedaço de papel e escreveu o seguinte bilhete: ‘ Maryam, obrigado pelas leituras. O Amor mudou meu modo de ver todas as coisas. Com carinho, Abraão. ’ . Dobrou o papel e colocou por debaixo da porta.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Amor Familiar


Naquela tarde ensolarada Clarice olhou pela janela e sentiu vontade de andar pelos campos de lavanda. Ela colocou um vestido simples, um chapéu de palha e saiu pelo jardim do antigo sobrado respirando o ar fresco e perfumado da primavera. Sentia-se particularmente feliz no meio da natureza e, enquanto caminhava, gostava de tocar as plantas e as flores de lavanda. Os pássaros cantavam uma melodia adorável e a acompanhavam pelo caminho. Percebeu um barulho atrás e viu sua filha sorrindo e correndo em sua direção. A menina era absolutamente linda: tinha o rosto parecido com o dela, mas os olhos doces do Pai. Assim como o Pai e a Mãe, Maria Cristina adorava ficar sentada no banco do jardim admirando o canto dos pássaros. Naquela região onde moravam havia muitos e, dessa forma, o sobrado estava sempre cheio deles. Clarice chegou a construir um pequeno viveiro totalmente sem grades e colocava alimento e água para eles todos os dias. A música parecia a de uma orquestra pela manhã e no final da tarde. Dessa maneira, a menina foi acostumada com o canto dos pássaros desde bebê e sentia-se muito à vontade perto deles. Muitos pássaros a conheciam e pousavam no seu ombro. Ela, que tinha agora sete anos, achava graça e brincava com eles.

Naquele dia elas se abraçaram e rodopiaram até caírem na grama alta. Deram risadas juntas e depois sentaram lado a lado. A Mãe sempre trazia consigo um volume para ler após a caminhada. Ela acostumou a criança a escutar a leitura. Dessa forma, ensinava poesia, filosofia e religião para a garota desde tenra idade. Como isso acontecia desde que ela era bebê, a garota achava muito natural escutar a leitura da Mãe. Ali ficaram as duas por um bom tempo lendo e escutando a doce melodia dos pássaros. Clarice escolhera naquela tarde uma fábula de cavaleiros medievais e castelos assombrados. A menina ficou com medo dos barulhos do castelo assombrado, mas a Mãe disse que era apenas uma história. Ela explicou que, o que importava mesmo, é que no final da história o cavaleiro salvava a donzela e eles eram felizes para sempre. A garota sorriu, inclinou a cabeça para o lado e perguntou: ‘Mamãe, o Papai salvou você?’. Clarice não conteve o riso e explicou que o Amor do Pai salvava ela todos os dias. A garota levantou satisfeita com seu vestido rodado e um pássaro pousou em seu ombro. Clarice se levantou e pegou a garota pela mão: caminharam juntas em meio a flores de lavanda por algum tempo e conversavam sobre o Amor. A Mãe ensinava a ela que o mais importante do que tudo na vida era Amar e ser Amada. Contou à filha que naquela mesma região havia vivido uma mulher muito boa, mas que havia sofrido por causa de um Amor. Ela explicou que um jovem cavaleiro havia cuidado dela com Amor verdadeiro e a curou de muitos males e dores emocionais. A garota perguntou curiosa: ‘Você conheceu ela Mamãe?’. Clarice sacudiu a cabeça dizendo que não enquanto abaixou-se para colher um copo-de-leite do jardim que entregou a filha. Voltaram juntas ao sobrado e encontraram Jessé, o filho mais velho do casal.

O Pai chegou em casa na hora da cantoria dos pássaros: tirou o chapéu e o casaco. Veio sorrindo e abraçou as duas de uma só vez, depois deu um beijo em cada uma. Em seguida, abraçou bem forte o filho e disse que tinha uma surpresa. As duas se olharam curiosas. Ele tirou do bolso quatro ingressos e disse que iriam ao teatro. Todos ficaram radiantes e Clarice perguntou qual era a peça. ‘A Lenda do Rei Arthur’, ele respondeu. A menina arregalou os olhos e disse que era livro que elas estavam lendo. O Pai sorriu e disse que não sabia disso. Olhou para Clarisse e piscou o olho.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Garota da Biblioteca


Era cedo ainda quando Jaques chegou à loja: nenhum irmão ainda havia chegado. Ele colocou seus livros sobre uma das mesas e foi buscar sua roupa cerimonial. Pensava em assuntos do cotidiano enquanto vestia a toga. Ouviu um barulho na saleta ao lado da sala principal e resolveu verificar o que se tratava: encontrou uma garota que aparentava uns vinte anos juntando vários livros que haviam caído no chão. Como ele não a conhecia, perguntou o que fazia ali. Ela se apresentou e disse que trabalhava na limpeza da biblioteca da loja. Ele achou estranho, e perguntou quem a tinha contratado: ela explicou que estava se preparando para estudar na Universidade, mas perdeu toda a família num acidente de carro. Como seu pai pertencera à maçonaria, falou com um irmão para conseguiu um emprego para começar a vida. Explicou que o grão-mestre havia pedido para ela catalogar e limpar todos os livros da biblioteca. O homem achou aquilo no mínimo curioso: uma mulher tendo acesso a toda aquela informação. Depois pensou que era melhor não indagar a decisão dos outros irmãos.

Enquanto os irmãos chegavam e conversavam fraternalmente entre si, ele esqueceu completamente a presença da garota na saleta ao lado. Finalmente, começaram a reunião como faziam de costume. Trataram de diversos temas, estudaram e realizaram seus rituais. Quando ele foi guardar sua roupa, passou novamente na saleta ao lado e encontrou a garota absorvida numa leitura. Ele a olhou com olhar de surpresa e ela fechou o livro rapidamente, o colocando na estante. Ele perguntou se ela tinha curiosidade a respeito dos assuntos que eles estudavam e ela respondeu que sim. Ele disse que dentro da Maçonaria existiam lojas mistas e outras onde algumas mulheres se encontravam e sugeriu que ela poderia se informar sobre isso com o grão-mestre. Ela sorriu e disse que enquanto estivesse executando aquela tarefa ela não teria muito tempo. Além disso, disse que gostava de ser meio independente e ler sobre vários assuntos. Ele achou graça e entendeu que essa era uma característica da juventude. Ele se despediu e antes de sair se ofereceu para ajudá-la caso ela tivesse alguma dúvida.

Na outra reunião aconteceu um quadro parecido: quando Jaques chegou à saleta, lá estava a garota debruçada num enorme livro. Ela deu um sorrisinho maroto meio de lado e escondeu o livro na gaveta da escrivaninha. Ele não conteve o riso. O que fazer diante da curiosidade dela? Mantiveram aquele segredo. Manter segredos era o dom dos maçons.

Passaram-se alguns meses e eles sempre mantiveram o mesmo relacionamento de amizade e respeito. Numa ocasião, no meio da reunião foi solicitado que ele buscasse um livro na biblioteca: ao chegar lá encontrou a garota com um caderno fazendo várias anotações. Ele apenas passou os olhos quando passou atrás dela, mas viu que ela estava realizando o mesmo estudo que eles. Ele olhou sério e disse que falaria com ela depois. No final da reunião, depois que todos os irmãos tinham ido embora, ele perguntou se poderia ver o caderno. Ela explicou que eram anotações sobre leituras e sobre algumas reuniões que ela não pode deixar de ouvir. Quando ele abriu e começou a ler as anotações, verificou que ela tinha uma habilidade natural para aquele tipo de estudo e que muitos dos temas que ela abordava estavam acordo com as reuniões que eles, que estavam num grau já elevado, seguiam. ‘Você já mostrou isso para alguém aqui da loja?’, perguntou ele curioso. Ela respondeu que não com a cabeça. ‘Posso levar para dar uma olhada? Logo o entregarei de volta.’. Ela consentiu e voltou a arrumar os livros nas estantes.

Quando ele terminou de ler a última página ficou impressionado. Ela havia estudado coisas que em todos aqueles anos ele não havia aprendido. Pediu uma reunião em particular com o grão-mestre na qual mostrou o caderno sem dizer quem havia escrito. Ele leu calmamente e disse que ele poderia convidar essa pessoa para entrar para a irmandade. Ele sorriu e disse que se tratava da menina que limpava os livros. O grão-mestre arregalou os olhos incrédulo. Fizeram uma reunião com vários irmãos e uma votação. Naquele momento, aquela assembléia decidiu: a menina da biblioteca deveria ser convidada a fazer parte da irmandade. Isso não poderia sair de dentro daquele circulo de pessoas e se transformou no maior segredo daquela loja.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

Pérola


O vento daquela tarde estava diferente e trazia uma mensagem para Perla. Sentada num banco de frente para o mar ela sentia que algo muito novo estava para acontecer na sua vida. Passou as mãos nos cabelos tentando alinhá-los. Olhou a linha do horizonte e aspirou o ar carregado pela maresia. Conhecia bem aquele aroma desde criança, pois sempre vivera na praia. Tirou os chinelos e tocou a terra fofa que estava gelada naquela hora. Resolveu caminhar um pouco na beira da praia e molhar os pés: o contraste da temperatura da água com a da terra fez com que ela sentisse frio. Ela seguiu caminhando até um local cheio de quiosques e parou para tomar uma água de coco. Estava distraída olhando as gaivotas, quando percebeu um rapaz de vermelho se aproximar. Ele sorriu timidamente, mas se aproximou e perguntou onde ele poderia comprar um refrigerante. Ela deu uma risada e apontou o quiosque na frente deles. Ele, muito sem jeito, foi até o quiosque e voltou a sentar ao lado dela. Tiveram uma conversa agradável que durou algumas horas. Quando escureceu, Perla disse que precisava voltar para casa, então Jean se ofereceu para acompanhá-la até lá. Ele era adorável e sua intuição não se enganou a respeito de algo novo em sua vida. Na porta de sua casa, Jean a convidou para irem à praia juntos no dia seguinte e combinou que passaria ali às 9h da manhã.

Quando Perla acordou-se ela não podia acreditar: o mundo estava desabando em água. Uma chuva muito forte como há tempos ela não via. Ficou na dúvida se colocava roupa de banho, mas decidiu usar uma roupa normal, pois não daria nem para chegar perto da praia. Ficou observando na janela: Jean chegou de carro, estacionou e veio correndo até a entrada. Ela pegou a sua maior sombrinha para se dirigirem juntos até o carro. Não adiantou muito: ficaram ensopados. Jean disse que a levaria em uma parte da praia que poucas pessoas conheciam para eles conversarem um pouco. Ela concordou e estava gostando muito da companhia dele. Chegando ao local, o carro ficou próximo de pedras que davam direto para o mar. O lugar era muito bonito, mesmo com toda aquela chuva. Eles ficaram sentados de frente um para o outro por um longo tempo apenas conversando e se olhando. Jean timidamente tocou o rosto dela num rápido carinho e sorriu. Assim começou um grande Amor entre os dois. Passaram o verão inteiro juntos, sempre abaixo de muita chuva. Dizem que isso é um sinal de Deus e no caso deles definitivamente era.

Aquele foi o primeiro verão. No segundo o clima de romance permaneceu igual. Eles estavam completamente sorvidos um do outro. Viviam o Amor de forma suave, mas também intensa. Algo um tanto quanto difícil de explicar usando palavras. Não conseguiam ficar afastados e se ficassem, não conseguiam parar de pensar um no outro. Eles eram tão complementares que pareciam fazer tudo em sincronia. Numa noite de belo luar, Jean levou Perla novamente naquela praia que eles estiveram no primeiro encontro. Estava escuro e a lua cheia estava deslumbrante e refletia no mar. Ele tirou do bolso um pequeno embrulho e entregou a Perla. Era um par de brincos de pérolas com diamantes. Ela o beijou demoradamente e abraçou com muito carinho. Ele olhou em seus olhos e perguntou se ela aceitaria casar com ele. A lua, as estrelas e o mar foram testemunhas do sim e da noite inesquecível que eles passaram juntos.

Certa vez caminhando pela praia, ela sentou naquele mesmo banco do dia em que conhecera Jean. O vento era forte novamente e ela sentiu o cheiro da maresia com contentamento. Agradeceu a Deus pela benção de ter encontrado o Amor verdadeiro e por toda a sorte que tivera em sua vida. Nesse momento, o vento ficou mais forte. Ela, olhando para o oceano, deixou escorrer uma lágrima de alegria.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Verdade e Amor


Uma das coisas com a qual tenho enorme dificuldade em lidar é com a mentira. Vejo que isso é muito comum entre as pessoas e, muitas vezes, penso que é algo sensato de se fazer dependendo das circunstâncias. Contudo, se minto me sinto muito mal depois. Essa capacidade não está gravada no meu espírito. Ai vem uma pessoa e pergunta: ‘qual sua idade?’, eu dou uma risadinha meio de lado e respondo baixinho. Sou velha para isso, mas jovem de espírito e não nego esse fato. Ainda bem que Deus me manteve tanto tempo inocente, assim eu posso ter inspiração e escrever coisas bonitas. Na realidade, gosto de fazer várias coisas, mas me sinto muito satisfeita de poder expressar minhas idéias no papel. Cada um tem uma habilidade e eu acho que essa é a minha. Dessa maneira, creio que anos se passarão e eu sempre estarei aqui escrevendo. Naturalmente, aqueles que tiverem a oportunidade de ler terão opiniões diversas sobre meus textos. Acredito que isso é normal e faz parte de qualquer manifestação literária ou artística.

Como todos sabem meu tema favorito sempre foi e continua sendo o Amor. E algo que realmente me entristece é o desamor. Traição, mentira e desamor juntos formam uma bomba nuclear devastadora. Um pequeno conto para exemplificar o que tenho em mente:

Pietra era uma garota de 18 anos que tinha o péssimo hábito da mentira e da dissimulação. Ela tinha um namorado há algum tempo, mas nunca realmente Amou ele. Certa vez, combinou com um grupo de amigos uma festa numa danceteria nova da cidade. Lá chegando, foi apresentada à Maritza e ao seu noivo Carlos. Como Carlos era um influente político, Ela se interessou imediatamente por ele e resolveu ficar amiga de Maritza para se aproximar dele. Maritza e Pietra se tornaram amigas e, embora Maritza não soubesse, Pietra mentia muito a respeito de sua vida e não era efetivamente honesta em sua amizade com ela. Como ela estava sempre com Maritza, foi fácil chegar até Carlos: eles se encontravam escondidos e tiveram um tórrido caso, que também não era de Amor. Pietra tinha uma necessidade particular de desejar tudo que não estava ao seu alcance, mas depois que conquistava perdia o interesse. Ela desconhecia o Amor. Assim como fez com Maritza, Pietra agiu da mesma forma com outras pessoas. Ela vivia como muita gente vive: apenas de mentiras, paixões e sensações. Infelizmente, Pietra pensava que o Amor estava dentro desse contexto, pois assim ela aprendeu em sua vida. Para viver o Amor é preciso esquecer a mentira, a dissimulação e encontrar alguém que também sinta o mesmo e esteja disposto a viver um romance verdadeiro. Nos dias de hoje, isso também é muito difícil de encontrar. Dessa maneira, a sugestão para pessoas de todas as idades é menos teatro e mais verdade, menos paixão e mais Amor, menos ‘ligações perigosas’ e mais amizades verdadeiras. O mundo não vai mudar jamais se não começarmos por nós mesmos. Viver da mesma forma como a as pessoas viviam há muito tempo não é buscar mudanças e melhorias e, nem tampouco, colocar o Amor em nossas vidas.

Não à traição, à mentira e ao desamor. Verdade e Amor para todos! Sou inocente sim: creio que Deus me preservou dessa forma para poder dar o relato de que o Amor realmente existe, é bom e vale à pena.


Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Recordações


Dona Julieta era uma senhora de quase oitenta anos. Mesmo com uma idade tão avançada, fazia jus ao nome que recebera: era extremamente romântica. Como era viúva, vivia sozinha numa casa muito antiga que pertencia a sua família por gerações. Cuidava do jardim, cultivava legumes e verduras numa horta e tinha um canteiro especial com uma azaléia e um girassol. Esse canteiro ficava na frente de um muro baixo que trazia inúmeras recordações a Dona Julieta. Seu primeiro Amor, um jovem soldado do exército, dera o primeiro beijo nela diante daquele muro. Muitas vezes, Dona Julieta se apoiava no muro no final da tarde e suspirava relembrando da sua adolescência. Lembrava dos bailes que freqüentara cheios de moças com vestidos rodados e rapazes de farda. A melodia que tocava na orquestra numa noite muito especial para ela ainda estava na sua memória: seu namorado a pedira em noivado na pista de dança e, ao invés do tradicional anel, colocou uma gargantilha de coração em seu pescoço. Foi um momento inesquecível, assim como aquele Amor. Infelizmente, o destino desse romance foi trágico: alguns dias após o noivado, o exército convocou seu amado para a guerra. Eles se comunicavam apenas por cartas, que demoravam muitas semanas para chegar. Finalmente, ela parou de receber qualquer mensagem dele, assim como a família do rapaz, que estava em desespero. Passados mais ou menos uns onze meses chegou a terrível notícia: o rapaz fora atingido por um tiro e, mesmo depois de tratado no hospital, morreu de infecção. Foi um Deus nos acuda geral: Julieta ficou tão doente de depressão que quase morreu. Um determinado dia ela se levantou e foi até o jardim: pegou uma muda de azaléia vermelha e plantou num pequeno canteiro. No seu coração, aquela era a representação que o seu Amor ainda estava vivo e perto dela.

Como Julieta era muito jovem e bonita, logo superou a depressão e voltou a freqüentar os bailes com suas amigas. Foi numa ocasião dessas que um homem bem mais velho que ela a avistou de longe e ficou encantado. Ele mandou entregar flores no dia seguinte na casa de Julieta: eram belíssimas rosas vermelhas. No cartão estava o convite para um jantar e um número de telefone. Julieta ficou receosa, mas pela influência das amigas decidiu telefonar; algo que era muito ‘moderno’ para a época. Ela colocou um vestido rodado azul claro, uma echarpe da mesma cor e pintou os olhos com delineador negro, como era a moda da época. Quando o homem tocou a campainha ela não podia agüentar a curiosidade: qual foi sua surpresa quando se tratava de um homem ricamente vestido e muito elegante, apesar de muito grisalho. Tudo a impressionou nele: sua eloqüência, seu charme, sua inteligência, além de um olhar encantador. Eles tiveram uma noite muito agradável e antes da meia-noite Julieta já estava apoiada no muro suspirando pelo novo namorado. A lua estava cheia naquela noite e ela decidiu fazer um pedido: queria um sinal se aquele era o homem de sua vida. Na manhã seguinte, lavou o rosto, trocou de roupa e foi aguar as plantas do jardim. Quando abriu a porta, viu uma rosa cor-de-rosa sobre o muro e um bilhete que dizia:’Bom dia Princesa, uma dama não deve admirar a lua até tão tarde. Você estava linda. Olhe para seu lado direito. L.’ Ela olhou rapidamente para o lado e viu ele escorado no carro na frente de sua casa. Ela correu na direção dele e o beijou. Aquele era mais do que um sinal. De fato, nem a lua e nem o sinal se enganaram: Julieta e Luciano se casaram no final daquele ano. Compraram a propriedade atrás da casa onde ela morava e viveram naquele mesmo pátio ao lado daquele muro por trinta anos. Após a morte de Luciano, Julieta plantou um girassol ao lado da azaléia. Dessa forma, se sentia perto de seus grandes Amores.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.

domingo, 1 de maio de 2011

Estrela do Mar


Era uma vez uma estrela do mar. Ela vivia nas profundezas do oceano muito tranqüilamente junto com suas irmãs. Elas brincavam na areia e se deslocavam graciosamente entre os corais e as algas. Contudo, essa era uma estrela diferente: ela tinha muita curiosidade de ir além dos limites estabelecidos pela sua comunidade a serem ultrapassados no oceano. Muitas e muitas vezes ela chegava até o marco, que era o coral mais alto, e ficava olhando lá embaixo e imaginando o que poderia existir além do que ela avistava. Por muito tempo, ela seguiu com a mesma curiosidade. Contudo, à medida que ela ficava mais velha, a curiosidade começou a dar lugar a um anseio e, em seguida, a uma necessidade. Então, a estrela juntou alguns pertences e, sem que ninguém percebesse, pulou rumo ao desconhecido.

Livre foi como ela se sentiu mergulhando naquela profundeza azul. Saberia que se sentiria só e que iria chorar de saudades das irmãs, mas acreditava que precisava conhecer o que era proibido e o que estava além. Nadou sem avistar a areia do fundo por muito tempo e, inclusive, começou a se sentir cansada. Resolveu ir à superfície e boiar um pouco, pois estava muito escuro. Lá chegando percebeu que era noite e arregalou os olhos quando avistou um mar de estrelas. Elas eram diferentes dela, pois tinham uma luz muito brilhante. Ela sorriu e pensou que não estava assim tão só. Nesse momento, a mais brilhante de todas elas piscou e a cumprimentou. ‘Você está perdida?’, perguntou a estrela brilhante. ‘Estou indo conforme a maré’, respondeu a estrela do mar. ‘Vou lhe orientar, siga meu facho’, e ela começou a se mover. A pequena estrela do mar seguiu até um ponto, mas cansou de tanto nadar rápido e necessitou parar. Resolveu seguir o percurso durante o dia quando tinha melhor visibilidade. Acordou de sobressalto com um barulho estridente: eram golfinhos que estavam brincando a sua volta. ‘Você quer uma carona?’, perguntou um deles. A estrela aceitou e colou na barbatana do peixe. Quando ela visualizou o fundo, pediu para parar. Um dos golfinhos avisou que ali era perigoso, mas ela achou o local tão parecido com sua antiga casa que não deu importância. Ficou no fundo brincando na areia e se escondendo entre rochas e corais.

Quando ela estava distraída dentro de um coral, um enorme tubarão a surpreendeu. Ela fugiu rápido, mas não era apenas um e sim muitos. Como seu corpo era pequeno, ela conseguiu nadar o mais rápido que pode até encontrar os destroços de um enorme navio e se esconder dentro da embarcação. Ela esperou os tubarões irem embora e foi novamente até a superfície boiar e procurar sua amiga do dia anterior, mas estava nublado e as estrelas estavam escondidas. Ela resolveu nadar à noite para evitar os tubarões. Começou a sentir uma movimentação estranha na água e recebeu um esguicho: olhou para o lado e viu uma enorme baleia. ‘Quer uma carona até a praia?’, perguntou ela gentilmente. A estrela não sabia o que era uma praia, mas resolveu ir. Pela manhã a baleia a deixou num local entre rochas e palmeiras e ela pode observar um mundo novo, que até então ela desconhecia. O sol estava se levantando e ela ficou encantada com o brilho. O sol sorriu e disse: ‘Seja bem-vinda!’. Uma gaivota parou ao seu lado e a convidou para um vôo. A estrela resolveu ir e foi uma surpresa quando olhou a terra de cima: ela tinha o formato de uma estrela, assim como ela. Quando desceu, sua pele começou a ressecar e ela voltou para a beira d’água. Pela noite, num dos braços da terra havia um farol que clareava a noite escura. Ali naquela praia, entre as rochas e os coqueiros, a estrela decidiu viver sua vida. Ela não estava mais na areia do fundo com as irmãs, mas aprendia muito todos os dias a respeito da vida e do equilíbrio natural de todas as coisas dentro e fora do oceano.

Felicidades e sorte sempre!

Eleonora Reis.